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As Armadilhas da Autoestima

  • Foto do escritor: Marcela Lima
    Marcela Lima
  • 14 de abr. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 4 de out. de 2024

Esse não é um texto com 10 dicas para melhorar a sua autoestima, mas pode contribuir para aumentar a percepção sobre si, a partir de uma visão mais realista da insegurança



autoestima

Existe um movimento de insatisfação constante presente nos discursos das pessoas que estão em processo terapêutico a respeito de sua autoestima, no meu consultório, todos os dias escuto queixas repetidas de como as pessoas estão mais inseguras e com a autoestima mais baixa. Tenho percebido que a autoestima, para além das sessões de terapia, tem se tornado uma espécie de queixa contemporânea, nunca se falou tanto em autoestima, existem diversos textos e vídeos disponíveis online, que apresentam conceitos equivocados, com pouca ou nenhuma base teórica sólida, que prometem, com dicas superficiais ajudar a lidar com o problema da insegurança e aumentar a autoestima.


Percebo que o aumento do sofrimento envolvido nas queixas de baixa autoestima e de insegurança sentido pelas pessoas, tem muito a ver com o contexto sociocultural em que estamos inseridos atualmente, onde o discurso social predominante é extremamente exigente em relação à aparência, aos corpos e ao bem estar. Estamos inseridos em uma cultura que alimenta um “ideal de eu” perfeito: de aparência agradável, corpo esculpido, que esteja informado, saudável, feliz e equilibrado o tempo todo a despeito das dificuldades e dos sofrimentos inerentes aos seres humanos. É um discurso que adoece, pois alimenta as fantasias de autossuficiência sustentado pela ilusão de que deveríamos fazer mais, poder mais e ser mais, inclusive que deveríamos ser mais seguros e nos amar mais.


As exigências culturais a respeito de como deveríamos ser e viver, em uma sociedade pouco inclusiva e carregada de estereótipos, somado à necessidade humana de ser aceito e reconhecido, nos dá uma sensação de impotência, nos sentimos insuficientes e aquém de alcançar todas as exigências e com isso nos afastamos cada vez mais daquilo que realmente somos, pois está cada vez mais difícil ter uma visão realista de nós mesmos: um ser humano com uma vida real, sem filtros, permeada pelos erros, pelas faltas, pelo vazio e pelas incertezas.


O acolhimento terapêutico para as queixas de insegurança e baixa autoestima em um processo terapêutico, vai muito além de dicas superficiais para te tornar uma versão melhor de si mesmo, entende-se que para evoluir enquanto pessoa e sentir segurança em si mesmo, é necessário encarar a nossa condição humana de impotência, entrar em contato com nossas fragilidades e inseguranças e ter consciência dos nossos limites. É um trabalho psíquico de ser real, de ficar satisfeito com o que é suficientemente bom e não uma busca incessante pelo perfeito que não existe.

Autoestima, então, não é dar conta de tudo, se garantir ou ser melhor que o outro, mas é olhar para o que não somos e não temos e aprender a ter paz em saber que temos limites e limitações, a partir dessa paz é possível trilhar um caminho para que os próprios limites sejam ultrapassados a partir do que é possível e faz sentido para si, não se baseado em valores externos ou em comparações com os outros, mas em uma verdade íntima, da alma, que não é produzida, mas tem a ver com a convicção de que se está trilhando o caminho do que é possível, na direção do melhor de si, que nunca é perfeito e sem falhas, mas confiante de que o possível, nessas condições, é suficiente.


Se as pressões que você sente para ser sempre melhor, produzir e ter mais, estão lhe tirando a paz, gerando uma cobrança interna além do que você pode suportar, e atrapalhando a visão que você tem de si mesmo, pode significar que você esteja em busca de um ideal inalcançável e pouco real, um trabalho de autoconhecimento pode te ajudar a dar mais valor a sua condição humana, ser mais compassivo com os seus erros e viver em paz consigo mesmo, com os outros e com as pressões externas da sociedade.  




 
 
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