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Vícios e Dependências

  • Foto do escritor: Marcela Lima
    Marcela Lima
  • 17 de mai. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 27 de mai. de 2024

Quais as funções psíquicas de um vício? Que tipo de sofrimento essa dependência está gerando? Como a Psicologia pode ajudar a lidar com os vícios e as dependências?



pessoa atrás da cortina

O vício é frequentemente definido como uma compulsão ou comportamentos repetitivos que o indivíduo sente como uma necessidade incontrolável de realizar, mesmo diante de consequências negativas. Geralmente associamos os vícios e as dependências às substâncias químicas: o álcool, o tabaco, as drogas ilícitas, naturais ou sintéticas, os entorpecentes em geral, bem como os medicamentos. Porém o vício pode se manifestar também em relação a alimentação, ao sexo, a jogos de azar, as apostas, os videogames, o abuso das telas e das redes sociais, as compras compulsivas, bem como os vícios em trabalho e em procedimentos estéticos. Eles são complexos e existem inúmeros objetos, substâncias e comportamentos pelos quais pode-se desenvolver algum tipo de vício ou dependência, seja ela física, química, comportamental ou psicológica.


A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece as dependências químicas tanto como doença crônica como um problema social, muitas vezes a dependência pode acarretar outros comportamentos, doenças ou transtornos como síndrome de abstinência, ansiedade, falta de foco, insônia, sedentarismo, descuido com a saúde, agressividade ou apatia, bem como quebra de vínculos familiares, profissionais e sociais, deteriorando o bem estar físico e psicológico do indivíduo. Reconhecer a dependência como uma doença é importante e fundamental, pois muitas vezes no meio relacional ela é vista como um problema moral ou distúrbio de caráter, o que aumenta a sensação de culpa e vergonha que acompanha o sujeito dependente, bem como um aumento na tendência de não pedir ajuda e/ou negar que se tem um problema.


Não existe uma única causa para os vícios e as dependências, eles são considerados problemas de dimensões multifatoriais que envolvem uma série de condições biopsicossociais, nesse sentido, a Psicologia, através do acolhimento e do não julgamento, busca entender qual a relação subjetiva que cada sujeito tem com o objeto em que ele é viciado, compreendendo que cada indivíduo é único e se relaciona com o objeto de forma distinta, entendendo que cada pessoa se vicia por razões individuais e têm como consequências diferentes tipos de sofrimento.


Além da investigação da realidade psíquica de cada sujeito, faz parte do processo terapêutico para tratamento das dependências, a investigação qualitativa e quantitativa da frequência e da função que o uso das substâncias e/ou objetos desempenha para o sujeito. Conhecer os hábitos de uso e compreender as funções que o objeto gera, possibilita reconhecer quais os efeitos psíquicos que esse consumo está produzindo. Também faz parte do processo terapêutico, explorar os fatores subjacentes ao vício, como traumas passados, problemas emocionais, crenças disfuncionais e padrões de pensamento.


A Psicologia como região transdisciplinar de saber e fazer, possui diversas ferramentas terapêuticas teóricas e práticas capazes de encarar a questão dos vícios e das dependências sob diferentes perspectivas. Sob algumas perspectivas os vícios e as dependências são vistos como objetos/comportamentos que de maneira inconsciente, o sujeito usa como forma de tamponar uma angústia, um sofrimento ou uma falta. Trata-se de um objeto que tem como função psíquica atenuar estados afetivos intoleráveis, age como recurso paliativo para se evitar o mal-estar que, muitas vezes, é inerente da condição humana, o vício seria considerado um antídoto contra situações difíceis de suportar.


Para a Psicologia Transpessoal, que vê a espiritualidade como parte da biologia subjetiva do sujeito e aspecto central no desenvolvimento do ser humano, as dependências e os vícios podem ser vistos também como uma emergência espiritual: como uma busca, ainda que inconsciente, por transcendência e completude. Nesse sentido, a psicologia transpessoal propõe um modelo de tratamento que compreende o ser humano sob uma perspectiva da saúde e não da doença, onde dentro de cada indivíduo está disponível um manancial e potencial saudável que quando acessados ampliam as próprias capacidades, diminuindo as ansiedades e substituindo sentimentos como vergonha, autopiedade e ódio por sensações de autoestima e compreensão.


As transformações em um processo terapêutico para dependências e vícios, não se dão de maneira mágica e fácil, na verdade o caminho da recuperação nem sempre traz incentivo e inspiração para transformação, muitas vezes é desafiador, doloroso e desencorajador. Olhar para as questões que estavam sendo ocultadas pelos vícios é muito dolorido e podem surgir sentimentos de raiva, medo, culpa, vergonha e outros difíceis de lidar, no entanto identificar e expressar emoções não reconhecidas é um fundamento da cura, enfrentar os sentimentos e as situações difíceis significa também redescobrir as forças internas que o indivíduo possui, o que possibilita o desenvolvimento de mais confiança em si mesmo e amplia a consciência sobre as possibilidades de cura e bem estar antes obscurecidas pelo comportamento viciado.


A diversidade e complexidade que envolve os vícios e as dependências químicas indicam que a Psicologia tem um papel fundamental no acolhimento, acompanhamento e tratamento, bem como na busca de soluções capazes de reverter os desafios associados a eles, tanto para o sujeito, como também para a família e a sociedade. Meus anos de experiência trabalhando com essas pessoas me fazem afirmar que o tratamento psicológico amplia as possibilidades do sujeito, um passo de cada vez, para uma vida mais significativa e saudável. Buscar ajuda é um ato de coragem e uma porta aberta para trilhar um caminho de esperança, recuperação contínua e transformação.


Meu consultório particular oferece tratamento individual e grupal para ajudar as pessoas a lidarem com seus vícios e dependências, e tratamento aos seus familiares, que geralmente também estão em sofrimento psíquico. Sou idealizadora e fundadora do RespirAção, um Programa de Cessação de Tabagismo, que ajuda centenas de pessoas, que desejam ou precisam parar de fumar mas não conseguem sozinhas.







 
 
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